O apóstolo João recebeu uma revelação sobre o
confronto entre Jesus e o anticristo em uma sangrenta batalha no vale do
Armagedom: “E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O que estava assentado
sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça” (Ap 19.11). Sobre
esse enfrentamento, ele descreveu que o Senhor entrará na batalha com grande
cortejo, pois viu que “seguiam-no os exércitos que há no céu em cavalos brancos
e vestidos de linho fino, branco e puro” (Ap 19.14).
A alusão a um exército do céu montado em
cavalos brancos gera uma dúvida: “Existem animais no céu?” Para saber se existem
animais no céu ou se ao morrerem eles vão para o céu é preciso compreender como
foram criados e como termina a vida deles. Conforme o relato do livro de
Gênesis, os animais foram feitos “almas viventes”, cada um conforme a sua
espécie. Foram criados a partir da ordem de Deus para que a terra produzisse
almas viventes e ela produziu “gado, e répteis, e bestas-feras da terra
conforme a sua espécie” (Gn 1.24).
Posto isso, compreende-se pela narrativa bíblica que os animais não têm espírito, são seres de existência biológica que encerram o ciclo da vida com a morte. Quando morrem, a vida deles se extingue restando apenas a matéria que se decompõe na terra. Ao contrário, o homem, criado do pó da terra, se tornou alma vivente quando Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida (Gn 2.7). Diferentemente, das outras criaturas, ele foi criado conforme a imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-27), com corpo, alma e espírito (1Ts 5.23), enquanto os animais possuem corpo, mas não têm espírito. Assim, o sopro de vida recebido de Deus denota a diferença entre o homem e os animais quando morrem. O fôlego de vida (espírito) soprado em suas narinas, que é a parte imaterial do seu ser, não se extingue com a morte; seu corpo formado da terra volta para a terra enquanto seu espírito retorna para Deus (Ec 12.7).
Nesse caso, a vida do homem não termina com a morte, embora deixe de existir na terra. Após a morte, haverá duas possibilidades de ele entrar na eternidade: ir para o Paraíso, se for salvo, enquanto aguarda o retorno de Cristo para entrar no céu ou ir para o Hades (lugar de tormentos), se não for salvo, e esperar o juízo final para ser condenado (Lc 16.22-23). Quanto aos animais, eles não têm espírito, por isso, não têm vida após a morte e também não entram no céu. Assim, os cavalos brancos mencionados em Apocalipse 19.14 não são literais e a compreensão correta do texto exige considerar que o livro traz o relato das visões que João recebeu de Deus.
Dessa forma, o exército do céu em cavalos brancos, com cavaleiros vestidos de linho fino, branco e puro, é uma conotação para demonstrar as características dos seres envolvidos nessa batalha. Pois, seres angélicos não precisam de cavalos para se locomover, mas são retratados desse modo para representar força, poder e autoridade diante do inimigo. E suas vestes retratadas por linho fino, branco e puro simbolizam justiça, dignidade e pureza, ou seja, virtudes que acompanham os santos e se revelarão no retorno glorioso do Senhor. À vista disso, o exército do céu constituído de seres angélicos e dos santos eleitos em Cristo (Ap 17.14) é mostrado a João em uma visão de soldados que surgem montados em cavalos brancos, vestindo roupas brancas de linho fino e puro. Portanto, Deus lhe revelou o futuro representado com imagens do seu tempo para que ele pudesse compreender a visão.
Artigo escrito por Aristeu Alves e publicado no jornal Mensageiro da Paz, edição de setembro/2022.
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